terça-feira, 27 de março de 2012

Descoberta primeira mutação humana que dá vulnerabilidade à gripe































A mutação só explicará o que se passa numa pequena parte das pessoas infectadas pelo vírus da gripe que ficaram muito doentes 

Uma mutação no gene humano IFITM3 foi associada a uma maior vulnerabilidade a infecções virais, em particular à gripe. Um estudo publicado na revista Nature mostrou que a mutação era muito mais frequente em doentes graves hospitalizados devido à estirpe H1N1, durante a pandemia de 2009, do que na população normal. Foi a primeira vez que se encontrou um gene directamente responsável pela vulnerabilidade a infecções.

“As doenças infecciosas são elas próprias genéticas. Esta foi a primeira observação de um gene que leva à susceptibilidade da gripe”, disse Kenneth Baillie, da Universidade de Edimburgo, um dos autores que assinou o artigo. “Pensamos num vírus como algo que nos infecta ou não”, explicou, citado pela BBC News. “Mas de facto, sabemos que a probabilidade de se contrair uma doença infecciosa é passada nas famílias de uma forma mais forte do que o cancro ou as doenças cardíacas.”

A equipa começou por estudar o efeito deste gene em ratinhos. O gene IFITM3 dá origem a uma proteína importante na primeira linha de protecção das células contra os vírus. Estes agentes patogénicos dependem da maquinaria celular para se replicar: entram na célula, inserem o seu ADN no meio dos cromossomas humanos e põem a maquinaria celular a produzir material genético e proteínas que se agregam, formando novos vírus. Depois, os agentes saltam fora da célula destruída, prontos para repetir a táctica e continuarem a infecção. 

No caso da gripe, o IFITM3 começa a ser expresso no tecido dos pulmões quando o sistema imunitário dá sinais da existência do vírus. Nos ratinhos mutantes que tinham este gene disfuncional, uma simples gripe era muito mais letal. Em comparação com ratinhos normais, o vírus penetrava mais no tecido dos pulmões, tinha uma replicação dez vezes maior e causava pneumonia como nas situações mais severas de gripe. Os ratinhos emagreciam muito e ficavam à beira da morte.

No caso da pandemia H1N1, os 53 doentes estudados que foram para ao hospital, no Reino Unido, com situações graves de gripe. Este grupo tinha uma frequência 17 vezes maior de uma mutação não funcional do gene IFITM3 do que a população caucasiana europeia. 

Os investigadores acreditam que a versão alterada do gene poderá causar ou uma proteína mais pequena ou pode diminuir a abundância da molécula. Uma das primeiras barreiras contra este vírus fica comprometida. 

Apesar de a mutação só aparecer numa parcela pequena dos doentes graves infectados pelo vírus H1N1, não explicando todas as situações, Abraham Brass, cientista da Universidade de Havard que liderou a investigação, diz que estes resultados sugerem que “indivíduos e populações com uma actividade menor do gene IFITM3 podem correr um risco acrescido durante uma pandemia, e que o IFITM3 pode ser vital para defender as populações humanas contra outros vírus como a gripe aviária”, disse à Reuters.

fonte: Público

domingo, 18 de março de 2012

Portugal gastou 15 milhões em vacinas contra a gripe A, mas destruiu mais de metade























Fraca adesão resultou numa utilização das vacinas muito inferior à esperada 

Portugal comprou dois milhões de vacinas contra a gripe A, por 15 milhões de euros, mas acabou por destruir mais de metade, que equivale a 9,7 milhões, segundo a sub-directora geral da Saúde. 

Em entrevista à Lusa, Graça Freitas explicou que foram administradas 700 mil vacinas e realçou que foram vários os factores que estiveram na origem desta “reduzida adesão” à vacinação contra o H1N1 pandémico em 2009, nomeadamente o facto de a actividade gripal se ter revelado mais moderada do que o esperado.

Esta fraca adesão resultou numa utilização das vacinas muito inferior à esperada. Assim, inicialmente o Estado português tinha encomendado seis milhões, mas conseguiu a compra de apenas dois milhões, considerados suficientes na altura.

Destes dois milhões de vacinas, que custaram 15 milhões de euros, foram administradas pouco mais de 700 mil.

As restantes, explicou Graça Freitas, ou foram inutilizadas, pois os frascos tinham dez doses e as que não eram administradas na altura não podiam ser guardadas, ou simplesmente foram destruídas.

O prazo de validade destas vacinas expirou em Agosto de 2011, mas mesmo se tal não tivesse acontecido elas não podiam ser usadas, pois o vírus da época gripal seguinte (2009/10) foi outro.

Por definir está o futuro do antiviral Oseltamivir, que Portugal adquiriu em 2005 para responder a uma eventual pandemia do vírus da gripe das aves.

Parte dos 2,5 milhões de tratamentos, adquiridos por 22,58 milhões de euros para a reserva estratégica de medicamentos, foi usada aquando da pandemia do H1N1, em 2009, mas uma outra continua guardada.

Graça Freitas revelou à Lusa que este produto deverá ser sujeito a uma reavaliação ainda durante este ano, de modo a assegurar que está em condições para prolongar a sua validade.

Se as autoridades competentes decidirem que esse prazo foi ultrapassado, ou se o produto não estiver em condições, o Oseltamivir deverá ser destruído, adiantou a sub-directora geral da Saúde.

Além deste medicamento, Portugal dispõe na sua reserva estratégica de medicamentos de vacinas contra a varíola, que têm uma validade “muito prolongada”, disse.

Para a gripe sazonal da presente época foram distribuídas gratuitamente 330 mil doses de vacinas nos centros de saúde, nomeadamente aos idosos com mais de 65 anos e baixo rendimento, e às pessoas institucionalizadas.

Graça Freitas reconhece que a adesão tem ficado “aquém das expectativas”, mas não adianta justificações nem estabelece, para já, uma ligação deste facto ao elevado número de mortos que se tem registado nas últimas semanas.

Certo é que o vírus em circulação (H3N2) é “bastante agressivo” e tem “uma expressão mais grave do que a gripe pandémica” de 2009, disse.

fonte: Público