terça-feira, 3 de abril de 2012

Conselho dos EUA recomenda publicação de artigos polémicos sobre gripe das aves


A gripe é transmitida das aves para as pessoas quando há contacto próximo

O Conselho Nacional Científico para a Biosegurança dos Estados Unidos recomendou agora a publicação de dois artigos científicos sobre o vírus da gripe das aves que foram alvo de polémica nos últimos meses.

A publicação dos artigos, que tinham sido submetidos no ano passado, um à revista Nature e outro à Science, foi impedida em Dezembro pela mesma entidade norte-americana, devido ao perigo de a informação ser utilizada para produzir uma arma de bioterrorismo.

As investigações revelavam quais eram as mutações necessárias para o vírus da gripe das aves, o H5N1, poder ser transmitido entre doninhas – o modelo animal por excelência para estudar a gripe nos humanos. 

Temeu-se que estas descobertas – da equipa de Ron Fouchier, do Centro Médico Erasmus, em Roterdão, e da equipa de Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA –fossem usadas para fabricar um vírus capaz de ser transmitido entre humanos e causar uma pandemia.

Para já, o vírus H5N1 só é transmissível das aves para as pessoas, mas a mortalidade humana é muito elevada, provavelmente maior do que a da gripe de 1918, que matou entre 20 a 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Janeiro deste ano, 20 equipas que trabalham na mutação do vírus da gripe assinaram uma moratória, para que, durante dois meses, a investigação parasse, para se reflectir sobre o caminho a seguir. 

Yoshihiro Kawaoka, um dos signatários da moratória, criticou na altura a iniciativa num artigo de opinião na Nature. “Algumas pessoas argumentam que os riscos destes estudos – mau uso e a libertação acidental do vírus, por exemplo – pesam mais do que os benefícios”, escreveu. “Oponho-me a isso. O vírus H5N1 que circula na natureza já é uma ameaça, porque os vírus da gripe sofrem constantemente mutações e podem estar na origem de pandemias que causam a perda de grande número de vidas.” 

Em Fevereiro, uma reunião da Organização Mundial de Saúde (OMS) concluiu que era necessário “alargar o prazo da moratória temporária da investigação do novo vírus H5N1 modificado em laboratório e reconhecer a necessidade de continuar a investigação do H5N1 que ocorre na natureza, para proteger a saúde pública”, dizia em comunicado a OMS.

Mas agora, depois de os artigos terem sido reescritos, houve uma mudança de opinião do Conselho Nacional Científico para a Biosegurança dos Estados Unidos. O seu presidente, Paul Kleim, disse esta sexta-feira, segundo o jornal The New York Times, que a nova versão dos artigos mostra que as experiências não eram tão perigosas como parecia inicialmente e que os benefícios da sua divulgação eram superiores a eventuais riscos.

Mesmo assim, enquanto o artigo de Yoshihiro Kawaoka na Nature deverá ser publicado na íntegra, o de Ron Fouchier na Science só poderá incluir parte da informação relativa à experiência. 

No entanto, há especialistas que não estão contentes e defendem que estas investigações nunca deveriam ter sido financiadas. Michael Osterholm, um dos membros do conselho, receia que os amadores usem esta informação. “Estou preocupado com o cientista de garagem, o cientista 'faça você mesmo', a pessoa que quer ver se consegue fazer a experiência", disse Michael Osterholm, citado pela BBC News. 

fonte: Público